
Eu posso tudo, não é? Um exemplo bem simples, eu adoro um bom
sofá, posso ficar sentada assistindo TV horas a fio, lendo um livro, comendo
pra sempre, claro que posso! E aí, quando ficar mais velhinha e parecer um
saco de batata, será que era isso que eu queria para mim? Ou eu quero ser
uma velhinha sarada, bem disposta e bem humorada. Pra isso, vou precisar
fazer escolhas e tomar decisões, que nada tem a ver com o que eu posso, mas
com o que quero pra minha vida.
O problema é que escolher me angustia, lembra que vou precisar renunciar
algumas coisas, afinal pra seguir por um caminho tenho que abrir mão de
outros. Isso me dá medo, me faz sofrer, sinto-me impotente e fico paralisada. É
só comigo, ou já aconteceu com vocês?
Ao longo dos anos tenho tentado lembrar que quem é responsável por minhas
escolhas sou eu e por isso, ao invés de me tornar um prisioneira de mim
mesma, assumo que a vida vai para o além do imediato e transformo a escolha
em algo maior.
Aprendi que pra fazer uma escolha, preciso considerar, não só o que quero
agora, mas devo me projetar no futuro e ver se vou continuar querendo o que
quero agora, se não é uma coisa só de momento. Preciso testar a minha
escolha, ver quais desdobramentos ela tem no tempo, pra poder evitar, na
medida do possível, me arrepender depois. Isso faz com que a partir da
escolha um processo que envolve decisões aconteça.
Lembra que eu podia ficar no sofá comendo e assistindo TV até criar raízes,
mas que quero ser uma velhinha sarada, então, antes de decidir o que quero
fazer precisei tomar cuidado com alguns enganos que podemos cometer
quando achamos que podemos tudo:
1. Pensar que não temos limites, que somos limitados. Achar que
dá pra sair fazendo tudo sem perceber e antecipar as
consequências desastrosas, isso pode custar muito caro. Ao
mesmo tempo, quando reconhecemos nossos limites podemos
experimentar o prazer extraordinário de saborear cada conquista
pelas quais nossos limites podem ser permanentemente
ampliados.
Não dá pra só ficar sentada no sofá e achar que quando ficar
mais velhinha vou estar em forma, pra isso acontecer decidi fazer
caminhadas e musculação.
2. O processo de decidir é diferente da mera escolha. Quando sou
eu que escolhe o caminho a seguir, não importa o que tenho que
fazer para alcançar meu objetivo, mesmo que eu dê uns
tropeções no meio do caminho, tudo bem, porque a estrada nem
sempre é reta, não é mesmo?
A primeira coisa que me perguntei foi como quero cuidar de mim
e neste caso, decidi por caminhar uma volta no quarteirão de
casa, hoje, em menos de um ano, já faço 4 km em 50 minutos,
me sinto uma verdadeira Ironman, abusada!
3. Quando me comprometo com o que decidi, pode parecer que
estou perdendo algo, quando na verdade a longo prazo estou
ganhando.
Pra me comprometer com a caminhada e depois com a
musculação, precisei abrir um horário no meu dia para isso,
precisei procurar um médico pra ver se estava tudo bem pra
começar, precisei abrir mão do meu sofá tão gostosinho, mas
hoje percebo que tudo isso é ganho pra mim mesma.
É claro, muitas vezes não nos é permitido escolher e isso é um assunto muito
sério, que fica para uma outra vez. Nesse texto quis falar um pouquinho sobre
a diferença entre o que posso e o que quero, porque percebo, que hoje em dia,
estamos em crise com tantas possibilidades de escolha e porque, muitas
vezes, colocamos a decisão das nossas escolhas na mão dos outros, o que só
acaba gerando sofrimento pra nós mesmos.
Com tudo isso, estou aprendendo que quando invisto nas minhas escolhas,
trabalho com a perspectiva da realização, do projeto, do sonho, isso significa
configurar uma possibilidade no futuro, a partir da qual oriento minhas ações
hoje. Assim, me desloco do prazer imediato e experimento uma nova
dimensão, que é a do prazer a longo prazo, ou seja, a de conquistar algo que
ainda não existe, mas que, se tudo der certo virá a existir e assim, a cada
passo conquisto propósito e sentido para minha vida.
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